11 agosto 2006

Susokan tayô

Na primavera do ano kanoe-saru(1), no templo de Amidaji em Ukyo(2), eu falava para a comunidade sobre o método da contemplação de ânâpâna(3). Naquele momento, Jochi pediu que eu escrevesse um texto. Aqui está a resposta ao seu pedido.
Ao oferecer os dois métodos de ambrósia, o grande santo venerado do mundo(4) socorreu os quatro tipos de discípulos(5). O primeiro é o método da contemplação do impuro(6). O segundo, o método da contagem das respirações.
Para simplesmente cortar rente a doença do desejo, a contemplação do impuro é essencial. De uma maneira mais geral, para domar todas as paixões, deve-se exercitar na contemplação da contagem das respirações. A contagem das respirações possui dezesseis virtudes extraordinárias. De partida, deve-se assentar calmamente o espírito: tomando a posição seja de meio lótus, seja de lótus completo, ajustar-se-á convenientemente a postura.
Conheceremos a fase da regressão, a fase da parada, a fase do avanço e a fase da certificação. No início, começa-se a contar até dez. Ter, neste momento, pensamentos dispersos, corresponde à fase de regressão. Por vergonha e arrependimento, deve-se perseverar mais. Sem se dispersar de um até dez, permanecer sempre à vontade no sentar correspondente à fase de parada, mas uma vez parado, é preciso avançar mais. Conta-se dois, como se tratasse de um, conta-se três como se tratasse de um. Se se consegue contar até quatro ou cinco como se tratasse de um, diz-se que este sentar é paz e alegria.
Em seguida, conseguir-se-á tomar sete, oito, nove e dez como a primeira respiração. O sentar é perfeitamente pacífico e trata-se da fase de parada na progressão gradual. A partir deste momento, abandona-se a fase da contagem da respiração para praticar a atenção na respiração. Quando se expira, sabe-se que se expira, quando se inspira, sabe-se que se inspira; reconhece-se plenamente todas as respirações, sejam elas longas ou curtas, rugosas ou delicadas, profundas ou superficiais. É a fase do avanço. Quando esta fase do avanço se unifica com o sentar em tranqüilidade, atinge-se uma fase de parada. Uma vez parado, não se para ali, mas se avança uma vez mais.
Alguma coisa aparece, uma visão ou uma sensação. Na sensação, as sensações de leveza, de peso, de calor, de frio se elevam a partir do percurso do sopro vital e preenchem todo o corpo. Esta sensação deve-se à preservação do poder da concentração. Todas as partes do corpo estão unificadas com a concentração. Na visão, vê-se a cor branca como origem. O azul, o amarelo, o vermelho, etc., se elevam a partir do percurso do sopro e preenchem todo o corpo. Depois até um dhanus, dois dhanus(7), um krosha(8), um yojana(9), uma vez atingida a fase de avanço, diz-se que se vê o mundo inteiro. Atingida a fase de verificação, morre-se aqui, nasce-se ali, diz-se que todos obtêm a liberdade.
O método da contagem das respirações se pratica meses e anos e quando os pensamentos dispersos não aparecem mais, segue-se a atenção na respiração. A longa se reconhece por si mesma, a curta se reconhece por ela mesma, a rugosa se reconhece por ela mesma, a delicada se reconhece por ela mesma, as respirações quente e fria se reconhecem por elas mesmas. A partir daí se alcança uma visão ou uma sensação. Ao se amplificar, todo o corpo se encontra preenchido, experimenta-se esta sensação, esta regra da quietude aparece. Quando o interior e o exterior estão unificados, a irradiação respiratória atingirá um hasta, dois hastas, quatro hastas(10), um krosha, um yojana. Diz-se que preenche até a totalidade do real. Quando o interior e o exterior estão harmonizados, um único instante presente penetra até os confins do passado e do futuro. Diz-se que se vê, que se sente mesmo, o assim-vindo que realizou o despertar em um passado imensamente longínquo.

Acima resumido.

Notas:
[1] 1800.
[2] Bairro de Kyoto.
[3] ânâpâna, sct. "expiração e inspiração", meditação sobre a respiração.
[4] O Buda Shakyamuni.
[5] Os monges, as monjas, os homens leigos, as mulheres leigas.
[6] Meditação sobre a decomposição do corpo humano.
[7] Unidade de comprimento indiana (cerca de 1,5 metros).
[8] Unidade de comprimento indiana que vale 2 000 dhanus.
[9] Unidade de comprimento indiana que vale quatro krosha.
[10] Unidade de comprimento indiana que vale 1/4 de dhanus.